Author(s): Anna Julia Dietzsch, Luis Octavio de Faria & Silva Marcello Kamayurá
As casas Kamayurá implantam-se no perímetro da circunferência que conforma a aldeia, estabelecendo limites entre o vazio central e o espaço doméstico dos quintais. Seus elementos estruturais são combinados com sofisticação, compondo um sistema construtivo coeso. Construída com materiais endêmicos da flora local, cada dono-construtor é responsável por construir sua ok'(oca) segundo as próprias medidas corporais, a partir da arquetípica “casa verdadeira”. A construção inicia-se com os mastros centrais; na sequência, mourões definem o perímetro da oca e traves horizontais no alto completam a fase inicial, servindo de âncora para receber a trama de elementos estruturais em arcos e anéis concêntricos. A estrutura resulta em duas cestas entrelaçadas, de dimensões monumentais, onde serão apoiadas as madeiras que recebem o sapé. As amarrações entre as peças são realizadas através de nós específicos com nomenclaturas também próprias. Assim como na aldeia a existência privada e doméstica concentra-se na periferia da circunferência e as deliberações políticas e rituais no centro, dentro da oca as extremidades também são locais de atividades privativas, onde amarram-se as redes, enquanto o centro configura-se pela convivência coletiva. As casas Kamayurá constituem um importante patrimônio e através delas é possível admirar os saberes da Cultura que as vem construindo, sedimentada por séculos de interação com seu habitat. O Manual da Arquitetura Kamayurá é um projeto de iniciativa dos próprios Kamayurá, para auxiliar a perpetuação da prática de construção das casas tradicionais e, através delas, contribuir com a preservação do planeta, a partir da profunda possibilidade de existência delas decantadas.
Volume Editors
ISBN
978-1-944214-30-2